APRESENTAÇÃO
Nossas experiências definem quem somos e o papel que desempenhamos no mundo. Minha trajetória define inicialmente este grupo, posteriormente este grupo define minha trajetória. Nasci de pais com menos de 4 anos de escolaridade, cresci com restrições financeiras imensas mas brincando na rua desvairadamente com meus irmãos. O brinquedo de rua me levou ao esporte competitivo. Me tornei atleta do atletismo; e, correndo paguei minha universidade, viajei pelo Brasil e vi o mar pela primeira vez. Correndo conheci muito gente maravilhosa. Naturalmente quando me formei minha meta era o esporte competitivo e o treinamento de uma equipe de atletismo. Mas foi uma escola pública pequenina e na qual dava aulas na terra vermelha que mudou o minha trajetória de desenvolvimento. Comecei nesta escola a trabalhar com as crianças com dificuldades motoras no período do turno inverso ao escolar; incomum para uma época em que as equipes e o treino de atletas era o foco das escolas. A primeira criança que intervi tinha dificuldades respiratórias decorrentes de uma alteração congênita que alguns anos mais tarde a levou à morte. Era filha de uma amiga professora e vinha todas as tardes “brincar” comigo na escola. Esta criança magrinha de lábios arroxeados, sorridente e feliz mudou minha trajetória e aspirações profissionais. Me apaixonei pelo trabalho com crianças com restrições em geral, deficiências, descoordenadas, desorganizadas no espaço e no tempo. De escola pública em escola pública me apaixonei pelo que faço. O nascimento de meu filho e horas e horas de brincar no chão com legos e “comandos em ação” me desafiaram a aprender mais. Estudava com ele no colo, rabiscando todos meus livros. Ainda guardo estes livros. A necessidade de entender como algumas crianças aprendem com certa facilidade e outras tem mais dificuldades me fez lutar com todas as forças e um inglês medíocre por uma bolsa de mestrado e doutorado em uma universidade americana, lá onde encontrei minhas primeiras mentoras intelectuais. No inicio a PhD. Jane Moore que me deu a oportunidade de trabalhar como voluntária em um programa para crianças com atrasos motores e a possibilidade de concorrer a uma bolsa. Meses depois PhD Mary Rudisill se tornou minha orientadora e amiga. No ano seguinte eu coordenava e conduzia este mesmo programa e ali aprendi como intervir e como implementar diferentes metodologias para promover desenvolvimento em crianças de risco; conhecimentos que uso até hoje. Depois de anos produtivos, volto ao Brasil com meus 3 filhos, dois nas mãos e uma na barriga e com a esperança de passar em um concurso na universidade pública. Estudei para o concurso no meio de bonecas e costurando roupinhas de barbies para minhas meninas. Ao ingressar na UFRGS, depois de 20 anos de escola pública, um novo mundo de oportunidades se abriu na pesquisa, meu sonho de muitos anos. A parceria com meu querido amigo “que se foi” PhD. Ruy Jornada Krebs nos levou para além do estudo da criança; e o contexto de desenvolvimento passa a fazer parte dos nossas investigações. Alguns anos atrás no pós-doutorado com PhD. Jane Clark e PhD. Jill Whithall sofistiquei as formas de diagnóstico de risco e aprofundei o foco na cognição infantil; o elo que até então estava faltando em muitas de nossas pesquisas. Trabalhamos em duas linhas de frente por paixão: a avaliação e a intervenção com crianças de risco. Em outra linha, a validação e normatização de instrumentos avaliativos, trabalhamos por necessidade investigativa. Carecemos ainda no Brasil de instrumentos de triagem e diagnóstico que sejam validados para nossas crianças. O contato com alunos que oriento e colegas pesquisadores com os quais colaboramos redefinem nosso multifacetado grupo e nossa trajetória. Somos um grupo diferente em todos os sentidos, temos diferentes personalidades: espíritos livres de moicano e cabelos roxo, hypongas, alternativos, irritadinhos e revoltados, certinhos, gringas obstinadas, patricinhas competentes, mães e pais de família, católicos, ubandeiros, espíritas, nordestinos tranquilos...; e, outros tantos alunos mais dentro de um padrão típico... olhando de longe... olhando de perto somos todos tortos e crescemos com a diversidade. O que nos une é mais do que a pesquisa e a produção de artigos científicos, o que nos une é esta ideia muitas vezes utópica de criar oportunidades de desenvolvimento para crianças de risco em contextos de privação. Este grupo me faz rir, me faz sonhar com mudanças em políticas públicas para nossas crianças, me faz brigar, desanimar algumas vezes também, recolher os cacos e começar de novo. Estudando o desenvolvimento humano olho para trás e vejo que minha mãe, meus irmãos, meus alunos, meus amigos, as crianças com quem trabalhamos e especialmente meus filhos definem quem sou e o que faço. Nessa intricada relação de nos tornarmos pessoas melhores seguimos trabalhando duro em escolas, hospitais, vilas, favelas e agora até em presídios. Juntos vivemos experiências de uma vida.
Nadia Cristina Valentini
Nadia Cristina Valentini
PESQUISAS
Este grupo dedica-se a pesquisar o impacto de intervenções nas habilidades motoras, cognitivas e sociais de bebês e crianças em situação de vulnerabilidade social, com atrasos motores, portadores e não portadores de necessidades especiais. Os participantes são bebês e crianças que apresentam fatores de risco para atrasos no desenvolvimento, os quais envolvem (1) um contexto cotidiano, família e instituições, pobre em experiências motoras, cognitivas e sociais; (2) o abandono, abuso ou negligência; (3) a falta de conhecimento de pais e cuidadores sobre o desenvolvimento e sobre formas de fortalecer o mesmo; (4) uma visão assistencialista no cuidado da criança; e, (5) alterações genéticas, congênitas, prematuridade ou baixo peso ao nascimento. Crianças que demonstram atrasos em relação aos seus pares são as que, no decorrer da experiência educacional, sucessivamente demonstram fracassos escolares. Atrasos motores repercutem no auto-conceito da criança, restringindo suas experiências informais na infância, limitando interações sociais e o desenvolvimento cognitivo. Nas pesquisas aplicadas desenvolvidas empregamos instrumentos avaliadores padronizados e validados, bem como observações e descrições sistemáticas do desenvolvimento, os quais nos permitem observar o impacto positivo das intervenções (1) no desenvolvimento de habilidades motoras; (2) no aumento das interações sociais e cooperação entre pares; (3) no engajamento cognitivo e motor em diferentes tarefas; (4) na autonomia; (5) na execução das atividades da vida diária; e, (6) no fortalecimento da motivação intrínseca e das percepções de competência em crianças portadores e não portadores de necessidades especiais. As pesquisas evidenciam também o impacto da intervenção em mudanças no contexto familiar de forma a favorecer o desenvolvimento da criança, tanto nas interações entre pais e cuidadores com as crianças, como na adequação do espaço físico do brinquedo.
PROJETOS DE PESQUISA QUE COORDENAMOS
Intervenções motoras: a influência no desenvolvimento motor, cognitivo e social de crianças com atrasos motores com ou sem deficiência
Este projeto tem como objetivo verificar a influência de intervenções motoras em parâmetros motores, sociais e cognitivos de bebês e crianças com atrasos motores, com ou sem deficiência. Os resultados desta pesquisa têm auxiliado na construção de novos pressupostos teóricos e práticos para o trabalho interventivo, principalmente para crianças de risco que demonstram menor interação social e dificuldades de aprendizagem aliadas as dificuldades motoras. Crianças que demonstram qualquer forma de atrasos em relação aos seus pares, são as que, no decorrer da experiência educacional, sucessivamente demonstram fracassos escolares. Ao longo de várias intervenções, objetivos voltados a prevenção têm sido fortalecidos.
Intervenção motora em bebês hospitalizados por doenças respiratórias
Verificar os efeitos de um programa de intervenção motora no desenvolvimento cognitivo, social e motor de bebês de 0 a 18 meses hospitalizados por doenças respiratórias nas unidades de internação pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Especificamente, (1) descrever o desenvolvimento dos bebês de 0 a 18 meses internados por doenças respiratórias no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA); (2) comparar o desenvolvimento de bebês internados por doenças respiratórias participantes e não participantes de um programa hospitalar de intervenção motora; (3) comparar o desenvolvimento de bebês internados por doenças respiratórias frequentadores e não frequentadores da sala de recreação da unidade de pediatria; (4) analisar as relações entre o desenvolvimento dos bebês hospitalizados e o tempo de internação, tempo de permanência na UTI, tipo de doença respiratória (conforme CID), nível socioeconômico e diferentes faixas etárias. Este estudo esta na etapa inicial de coleta.
Testes de desempenho motor, escala de auto-conceito, questionários de instrução e atitudes dos professores em relação ao currículo de educação física: um estudo de validação de instrumentos infantis
O Test of Gross Motor Development (TGMD-2) e a Alberta Motor Infant Scale (AIMS) são instrumentos usados para avaliar o nível de desenvolvimento motor de crianças entre 3 e 11 anos e 0 e 18 meses, respectivamente. O Movement Assessment Batery for Children second edition é uma bateria para avaliar a probabilidade de Desordem Coordenativa Desenvolvimental. O Self Perception Profile for Children (SPPS) é um instrumento usado para investigar o autoconceito e os níveis de percepção de competência de crianças, entre 8 e 12 anos, em diferentes domínios. O System for Observing Fitness Instruction Time - SOFIT (MCKENZIE, 2002) é utilizado para avaliar o tipo de engajamento do aluno durante as aulas de Educação Física, a distribuição do tempo de aula e o comportamento do professor. O Atitudes dos Professores em Relação ao Currículo de Educação Física - APRCEF (KULINA, SILVERMAN, 1999) avalia as crenças dos professores em relação ao currículo implementado nas aulas de Educação Física. O objetivo deste estudo está sendo o de traduzir; verificar a validade dos critérios motores quanto à clareza e pertinência por juízes; a validade fatorial confirmatória; e a consistência interna teste-reteste da versão portuguesa destes instrumentos. Até o momento a AIMS já foi validada e normatizada para crianças brasileiras. O TGMD-2, a MABC-2 e o SPPC também já foram validados. Estamos concluindo os resultados com os outros instrumentos.
Desenvolvimento motor e contexto: estudo apoiado na Teoria Bioecológica de Desenvolvimento Humano
O presente estudo, apoiado no Modelo Bioecológico de Desenvolvimento Humano (BRONFENBRENNER, 2005), investiga em três subculturas do Nordeste do Brasil (semiárido, serra e litoral) (1) como desempenho motor e escolar de crianças é afetado pelos contextos em que vivem; (2) como essas características pessoais afetam a maneira como o contexto é vivenciado pelas crianças; e (3) o que muda nos recursos pessoais das crianças e no macrossistema com a criação de um novo microssistema promotor de desenvolvimento. Nossos resultados preliminares revelam que mais de 90% dos participantes demostram desempenho motor inferior ao percentil 5 (categorizado como muito pobre) e que 70,6 % desempenho escolar inferior. Tais atrasos estão possivelmente associados a (1) omissão do macrossistema (Legislação e Sistema de Crenças) que repercute em falta de oportunidades no microssistema escola; (2) ausência de uma proposta pedagógica para promover o desenvolvimento motor nas escolas e nos projetos sociais; e, (3) baixa capacitação docente são responsáveis pelos atrasos motores. Os atrasos motores afetam o estilo de vida das crianças e a forma como estas transitam em outros contextos, reduzindo sua possibilidade de intercâmbio social. Intervenções tem sido conduzidas e tem se mostrado eficiente em promover mudanças significativas no desempenho. Os resultados qualitativos observacionais e referente aos Discursos do Sujeito Coletivo suportam o entendimento que somente a implantação de microssistemas com apoio do poder público podem influenciar positivamente as características pessoais das crianças bem como o sistema de crença vigente na cultura em que estas crianças se desenvolvem.
Perfil do desenvolvimento neuropsicomotor de crianças cadastradas em 4 unidades básicas de saúde conveniadas a Universidade de Caxias do Sul. Influência de diferentes fatores de risco para atrasos comportamentais
Este projeto tem como objetivo traçar o perfil de desenvolvimento neuropsicomotor das crianças cadastradas em 4 Unidades Básicas de Saúde conveniadas a Universidade de Caxias do Sul, verificando a influência de diferentes fatores de risco biológicos e sócio-ambientais no desenvolvimento das crianças de 0 a 18 meses de idade. Este projeto está em fase de coleta de primeiros dados.
PROJETOS DE PESQUISA QUE COLABORAMOS
Saúde materno infantil nas prisões
A ruptura dos laços sociais, a vulnerabilidade das mulheres encarceradas num meio marcado pela violência, a importância da droga como causa de condenação e as especificidades ligadas ao gênero, à maternidade, ao nascimento e a vida na prisão das mães e seus filhos, clamam pelo desenvolvimento de estratégias de prevenção e assistência adaptadas a esta situação. Neste contexto, estamos colaborando com o projeto de pesquisa intitulado “Saúde materno infantil nas prisões” que se articulará com o projeto “Nascer no Brasil” atualmente em desenvolvimento ao nível nacional pela pesquisadora Maria de Carmo Leal da ENSP/FIOCRUZ. O objetivo geral desse projeto é obter informações sobre maternidade, nascimento, crescimento e desenvolvimento psicossocial e motor da criança no ambiente carcerário, que servirão de base para a formulação de recomendações específicas para este contexto. A parte que mais diretamente envolve nosso grupo diz respeito as relação das detentas e de suas crianças, práticas maternas e oportunidades para o desenvolvimento de suas crianças, com suas famílias e membros da comunidade carcerária (guardas, outras detentas, administração penitenciária, profissionais de saúde, psicólogos, etc) que constituem o "ambiente social" das mulheres encarceradas num contexto confinado, altamente hierarquizado e freqüentemente violento. Futuro das crianças em termos de aquisição das habilidades psicossociais e motoras necessárias ao desenvolvimento adequado e das mães após a saída da prisão. Neste momento finalizamos a coleta de dados do mesmo.
Avaliação do desenvolvimento motor e cognitivo em crianças com idade entre 6 e 10 anos
Este projeto está sendo desenvolvido em parceria com a UEM com professores Lenamar Vieira e Jose Luiz Lopes Vieira.
O estudo do desenvolvimento motor tem como um ponto central descrever e explicar as mudanças que acontecem no comportamento motor ao longo da vida. A avaliação de vários aspectos do comportamento motor de um indivíduo torna possível ao especialista motor monitorar alterações de desenvolvimento, identificar atrasos e obter esclarecimentos sobre estratégias para instrução. De forma geral, a qualificação de um indivíduo estaria baseada na caracterização de seu desempenho em várias habilidades, as quais seriam representativas de uma competência motora mínima para que o indivíduo possa agir de acordo com demandas das atividades motoras da vida diária, ocupacionais, expressivas, recreativas e esportivas. Quando as crianças não apresentam essa competência motora mínima para a realização destas atividades, podem apresentar problemas nas relações sociais, emocionais, afetivas e escolares. Ainda, o atraso motor pode estar associadas a outros problemas de desenvolvimento, como, por exemplo, o desenvolvimento cognitivo (MISSIUNA, 2003; WRIGHT; SUDGEM, 1996). Deste modo, este projeto se propõe a avaliar o desenvolvimento motor e cognitivo de crianças com idades entre 6 e 10 anos ao longo de dois anos a fim de identificar as mudanças que ocorrem no comportamento motor e caracterizar o desenvolvimento motor e cognitivo conforme a idade e sexo, por meio da análise do produto e do processo. Os benefícios esperados são: Incentivar a detecção e atendimento preventivo e compensatório de crianças com atrasos de desenvolvimento motor e cognitivo, pois crianças com essas características tendem a se afastar de atividades físicas, diminuindo as relações socioafetivas e adotando um comportamento sedentário, o que nos dias atuais tem contribuído para o aumento da obesidade infantil e de doenças à ela associadas. Estamos em fase de coleta de dados deste projeto.
O estudo do desenvolvimento motor tem como um ponto central descrever e explicar as mudanças que acontecem no comportamento motor ao longo da vida. A avaliação de vários aspectos do comportamento motor de um indivíduo torna possível ao especialista motor monitorar alterações de desenvolvimento, identificar atrasos e obter esclarecimentos sobre estratégias para instrução. De forma geral, a qualificação de um indivíduo estaria baseada na caracterização de seu desempenho em várias habilidades, as quais seriam representativas de uma competência motora mínima para que o indivíduo possa agir de acordo com demandas das atividades motoras da vida diária, ocupacionais, expressivas, recreativas e esportivas. Quando as crianças não apresentam essa competência motora mínima para a realização destas atividades, podem apresentar problemas nas relações sociais, emocionais, afetivas e escolares. Ainda, o atraso motor pode estar associadas a outros problemas de desenvolvimento, como, por exemplo, o desenvolvimento cognitivo (MISSIUNA, 2003; WRIGHT; SUDGEM, 1996). Deste modo, este projeto se propõe a avaliar o desenvolvimento motor e cognitivo de crianças com idades entre 6 e 10 anos ao longo de dois anos a fim de identificar as mudanças que ocorrem no comportamento motor e caracterizar o desenvolvimento motor e cognitivo conforme a idade e sexo, por meio da análise do produto e do processo. Os benefícios esperados são: Incentivar a detecção e atendimento preventivo e compensatório de crianças com atrasos de desenvolvimento motor e cognitivo, pois crianças com essas características tendem a se afastar de atividades físicas, diminuindo as relações socioafetivas e adotando um comportamento sedentário, o que nos dias atuais tem contribuído para o aumento da obesidade infantil e de doenças à ela associadas. Estamos em fase de coleta de dados deste projeto.